“Gaza é aqui” tem sido uma expressão recorrente usada para relatar alguma atrocidade extrema, ocorrida contra territórios não ocidentais fora da Palestina. Nesta referência comparativa àquela faixa de terra que, desde o século XIX, vem escancaradamente diminuindo a cada dia que passa, se testemunha algo profundamente doloroso: a Faixa de Gaza se tornou quase um sinônimo da violência e do assédio ocidental constantes. Na introdução de A questão da Palestina, publicado em 1979, Edward Said afirma:
Desenvolvemos uma resistência extraordinária e tivemos um ressurgimento nacional mais extraordinário ainda; conquistamos o apoio de todos os povos do Terceiro Mundo; e, acima de tudo, apesar de estarmos geograficamente dispersos e fragmentados, apesar de nos destituírem de nosso território, ainda nos mantemos unidos como povo, em grande parte porque a ideia palestina (que articulamos a partir da nossa experiência de expropriação e opressão exclusivista) tem uma coerência à qual todos nós respondemos com inegável entusiasmo (XLVIII, 2012)1.
Fica evidente que Said pontua o reconhecimento por meio dessa relação dos povos e de seus corpos que, mesmo estando distantes entre si, compartilham experiências similares de interdição, extradição ou ilegalidade em seus próprios territórios. Uma situação de subalternização que podemos traduzir pelos variados processos de embranquecimento, epistemicídio, gentrificação, nas tentativas de extermínio e finalmente pelo muro, dispositivo máximo da exclusão. Muro criado a partir do momento que se determina uma faixa como a que se estende ao longo do Mar Mediterrâneo preenchida por terra, escombros e de gente que resiste sob ataques que não cessam.
A exposição não descarta o pensamento do muro como barreira, mas tenta ir além no sentido de considerá-lo como faixa na qual, a despeito de tudo, se deve atravessar ou ainda se erguer em forma de protesto. Como diz Said: “dispersos e fragmentados, apesar de nos destituírem de nosso território, ainda nos mantemos unidos”. Os trabalhos aqui reunidos refletem sobre formas de estar, de barganhar e de atravessar o risco.
Khadyg Fares
1 SAID, Edward. A questão da Palestina. Tradução: Sonia Midori. São Paulo: Ed. Unesp, 2012.
Exposição com:
Adelaide de Estorvo
Anna Sew Hoy
Basel Abbas e Ruanne Abou-Rahme
Carolina Velasquez
Eric Leite E Sol 1 Na Missão
Flyers For Falastin
Mahmoud Darwish
Maré De Matos
Paulestinos
Rodrigo Lahoud
Stanya Kahn
The New York War Crimes
Yara Osman